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Blog do Stevens Rehen

Internalizar a ciência internacional é crucial para nosso futuro como nação

Stevens Rehen

02/07/2017 14h44

Como qualquer humano, precisaremos sempre de estórias pra acreditar. Se não fosse assim, não haveria times de futebol, religião ou política.

Por falar em política, talvez devêssemos parar tudo (tudo mesmo) para reescrever o capítulo sobre as nossas instituições republicanas. Só que preferimos acreditar em outra estória, de que jogar para debaixo do tapete a crise institucional é melhor para o "crescimento econômico" do que um segundo impeachment. Se não fosse por isso, as panelas continuariam batendo mesmo depois de 31 de agosto de 2016. E muito mais agora, com tudo que "aprendemos" sobre Aecio Neves e Temer.

Seguimos como telespectadores de uma temporada interminável de Walking Dead em que Brasília é o epicentro da contaminação pelo vírus da corrupção. Vez por outra, lançamos comentários sobre os "episódios" mais emocionantes nas redes sociais, mas nada além disso.

Diante de cenário tão obliterado, pode parecer estranho querer convencê-los de mais uma estória, de como a ciência é importante, de como não haverá melhorias na qualidade de vida nem mesmo felicidade ou um mundo mais justo sem ciência.

"O país pegando fogo e vocês aí querendo nos fazer acreditar que pesquisa feita no Brasil vai mudar alguma coisa". Eu e muitos colegas já ouvimos mais de uma vez.

Só que, na prática, está tudo misturado. A desilusão com esse período triste da nossa história, com personagens que queremos esquecer (ou melhor, prender) não deveria abafar de onde vem a esperança e mesmo o futuro. É tiro no pé.

Dito isso, ainda tem gente boa tentando vir pra cá. Como relatou Ancelmo Gois essa manhã e compartilho aqui embaixo. Nesse caso não deu certo, e o custo-brasil venceu mais uma vez.

Em nosso instituto, também estamos tentando contratar um cientista estrangeiro para nossos quadros. O candidato foi selecionado e aguarda há muitos meses, mas esbarramos nas exigências e justificativas para a contratação de um estrangeiro pelo Ministério do Trabalho.

Não desistimos, e nem iremos. A estória da ciência vale muito a pena, basta olhar para os países que acreditam nela.

"Desabafos" virtuais como esse que acabo de fazer, funcionam como descarrego. Internalizar a ciência internacional é crucial para nosso futuro como nação.

Sobre o Autor

"Stevens Rehen é um neurocientista brasileiro, coordenador de pesquisa do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (IDOR) e professor titular do Instituto de Ciências Biomédicas da UFRJ. Também é Membro do Comitê Científico do Museu do Amanhã, Membro do Conselho Científico do Instituto Serrapilheira, Embaixador ASAPbio, Chair do Comitê Brasileiro da Pew Charitable Trust Latin American Program in the Biomedical Sciences, Coordenador científico da ArtBio, Membro da Academia de Ciências da América Latina e Membro Afiliado da Academia de Ciências do Mundo em Desenvolvimento (TWAS).Prêmio Saúde 10 anos na categoria Saúde Mental e Emocional, Revista Saúde e Editora Abril (2015), Prêmio Faz Diferença, Jornal O Globo (2011), As 100 pessoas mais influentes do Brasil em 2009 e novamente em 2011 (Revista Época). Os 8 brasileiros que estão moldando positivamente o futuro do país (Revista Fora de Série), Jornal Brasil Econômico, 2009. Contato para palestras, eventos e institucionais: srehen@uol.com.br"

Sobre o Blog

O cotidiano de um cientista no Brasil.