A ciência segue me levando a conhecer lugares e pessoas incríveis
Hoje estou em Marana, Arizona, para reunião anual da fundação Pew, da qual faço parte.
A palestra de abertura foi com MARY-CLAIRE KING.
Em 1975, Mary-Claire foi quem revelou pela primeira vez que nós compartilhamos 99% do material genético com os chimpanzés.
Na década de 1980, a geneticista norte-americana conheceu as "Abuelas" da Praça de Maio e teve papel fundamental na identificação (e reconciliação) de crianças argentinas, filhas de pais desaparecidos durante a ditadura, com seus avós e parentes.
A trajetória de Mary-Claire ilustra uma dentre várias maneiras de engajamento de cientistas em questões políticas e sociais.
Foi inevitável lembrar dos nossos "anos de chumbo" e também que, 200 políticos e ativistas foram mortos no Brasil desde 2013, incluindo Marielle Franco.
A socióloga foi um sopro de renovação numa câmara municipal tóxica.
Nós, cientistas, também podemos ajudar a oxigenar o quadro político brasileiro.
Como aliás, já está acontecendo aqui nos EUA (escreverei mais a respeito numa próxima oportunidade).
Todos que prezam pelos direitos humanos, pelas liberdades de expressão, que buscam combater as fake news e concordam (baseados em dados científicos) que armar (mais) a sociedade e a guerra às drogas são péssimas ideias, precisam se unir. Só a ciência salva.
Coincidentemente, ontem recebi de Marcel Frajblat (professor da UFRJ e secretário da FeSBE) questões para reflexão sobre o impacto da eventual participação da comunidade científica no processo de renovação política do Brasil.
1. Você se lembra em quem votou para vereador ou deputado federal nas últimas eleições?
2. Recorda a última vez que um político visitou sua instituição de ensino/pesquisa?
3. Já presenciou a mobilização da comunidade científica para eleger candidato(a)?
4. Votaria em candidato(a) com plataforma predominantemente pró-ciência?
5. Votaria em candidato(a) cuja profissão está associada à ciência?
6. Você apoiaria candidato(a) cientista independente do partido a que esteja filiado(a)?
Taxistas, pecuaristas, evangélicos, militares, comerciantes, empreiteiros, empresários de todos os ramos, têm representatividade no congresso.
A execução de Marielle é o fundo do poço no caos do Rio mas poderá despertar em cada um de nós, inclusive cientistas, a vontade de lutar. Maneiras de fazê-lo não faltarão.
A propósito, no final de março encerra-se o prazo para candidaturas nas próximas eleições. O tempo é curto.
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