Considerações de um cientista sobre o plano de Bolsonaro para ciência e tecnologia
A proposta de Plano de Governo de Jair Bolsonaro, no que diz respeito à ciência, concentra-se principalmente numa abordagem de incentivo às parcerias público-privadas e numa ciência "mais aplicada" e menos básica, além de um aparente foco nas ciências exatas e não tão claramente nas ciências da saúde.
Como as universidades brasileiras, principalmente as públicas, são a espinha dorsal do desenvolvimento científico e tecnológico no Brasil, uma mudança para um modelo de busca de recursos e parcerias no setor privado pode levar a pautar a ciência brasileira em questões exclusivamente imediatistas ou militares (como o candidato declarou recentemente), e menos em questões estratégicas de saúde pública, por exemplo.
Além disso, durante sua atuação no Congresso Nacional como deputado, Bolsonaro ignorou evidências científicas.
Uma das 2 leis que ele conseguiu aprovar foi a liberação da fosfoetanolamina, a chamada pílula do câncer, substância que gerou clamor popular mas nunca teve sua eficácia cientificamente comprovada.
Bolsonaro não costuma fazer, em sua campanha, menções à área de ciência e tecnologia. Quando o faz, cita a importância de investimento em pesquisas com nióbio e grafeno.
Não está claro como o candidato atacaria o problema da infraestrutura ou o contingenciamento do FNDCT, ou como lidaria com questões cruciais para a pesquisa científica, como a burocracia que atrapalha a importação de reagentes e o estudo da nossa biodiversidade.
A ideia de reduzir o número de ministérios, extinguindo, por exemplo, o MMA, terá impacto direto na ciência que deveríamos fazer.
O diferencial competitivo do Brasil é sua biodiversidade e ela deveria perpassar todos os aspectos da ciência brasileira. Acabar com o MMA sinaliza desconhecimento do candidato quanto ao nosso principal diferencial competitivo como nação.
Concluindo, as ações pregressas de Bolsonaro e as diretrizes genéricas para a gestão de C&T que caracterizam seu programa sugerem um cenário desanimador.
*Elaborado em parceria com Fabio Gouveia, Pablo Trindade, Alexandre Anésio, Mauro Rebelo e Renato Molica.
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