Preocupações sobre o plano de Bolsonaro para ciência
Há que se separar a personalidade de Jair Bolsonaro, transparecida em suas falas públicas, do que está escrito em sua proposta de plano de governo para ciência e tecnologia.
Ouvindo a primeira e lendo a segunda, parecemos estar diante de duas realidades totalmente diferentes.
Como cidadão, preocupa-me esta dualidade, pois a personalidade de um extremista é grave para qualquer pessoa que preze a democracia.
Por outro lado, seu plano de governo é notadamente calcado no liberalismo econômico e não apresenta esses mesmos traços, mas é omisso em ações afirmativas nesses quesitos.
Como cientista, preocupa-me a aparente visão de que o investimento em ciências deveria se resumir às ciências exatas mais "aplicadas" e só eventualmente no campo da saúde, com desinteresse pelas ciências sociais e humanas, bem como pelas artes.
Também preocupa-me a pesquisa sobre meio ambiente e a atitude de Bolsonaro em relação ao acordo de Paris e à preservação da Floresta Amazônica.
Provável que investirá pouco ou quase nada no conhecimento da diversidade do ecossistemas brasileiros e na proteção dos nossos recursos ambientais.
Provável também que o governo Bolsonaro seja omisso em relação aos principais embates ambientais, com impacto negativo sobre o meio ambiente.
Ao declarar em entrevistas que não irá aumentar "em 1 milímetro" as terras indígenas, o candidato também está dizendo que irá liberá-las para a exploração econômica (agronegócio, mineração, etc.) ignorando o valor da biodiversidade.
Também preocupa-me a carência de planos para ciência como setor estratégico de estado, planos que sejam superiores às turbulências de governos.
Sabemos que é necessário muito tempo para o estabelecimento de grupos de pesquisa e para o desenvolvimento de projetos que podem efetivamente trazer inovação tecnológica.
A descontinuidade no investimento em C&T desestabiliza projetos de pesquisa que pretendem competir em nível internacional, além de prejudicar a formação de novos cientistas. Os efeitos disso serão sentidos por anos ou décadas.
Uma visão combinada de ampliação de recursos públicos que permita a atração de investimentos privados e estratégias público-privadas em áreas de pesquisa fundamental seria o ideal.
*Elaborado em parceria com Fabio Gouveia, Pablo Trindade, Alexandre Anésio, Mauro Rebelo e Renato Molica.
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