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Blog do Stevens Rehen

Preocupações sobre o plano de Bolsonaro para ciência

Stevens Rehen

21/10/2018 11h40

Há que se separar a personalidade de Jair Bolsonaro, transparecida em suas falas públicas, do que está escrito em sua proposta de plano de governo para ciência e tecnologia.

Ouvindo a primeira e lendo a segunda, parecemos estar diante de duas realidades totalmente diferentes.

Como cidadão, preocupa-me esta dualidade, pois a personalidade de um extremista é grave para qualquer pessoa que preze a democracia.

Por outro lado, seu plano de governo é notadamente calcado no liberalismo econômico e não apresenta esses mesmos traços, mas é omisso em ações afirmativas nesses quesitos.

Como cientista, preocupa-me a aparente visão de que o investimento em ciências deveria se resumir às ciências exatas mais "aplicadas" e só eventualmente no campo da saúde, com desinteresse pelas ciências sociais e humanas, bem como pelas artes.

Também preocupa-me a pesquisa sobre meio ambiente e a atitude de Bolsonaro em relação ao acordo de Paris e à preservação da Floresta Amazônica.

Provável que investirá pouco ou quase nada no conhecimento da diversidade do ecossistemas brasileiros e na proteção dos nossos recursos ambientais.

Provável também que o governo Bolsonaro seja omisso em relação aos principais embates ambientais, com impacto negativo sobre o meio ambiente.

Ao declarar em entrevistas que não irá aumentar "em 1 milímetro" as terras indígenas, o candidato também está dizendo que irá liberá-las para a exploração econômica (agronegócio, mineração, etc.) ignorando o valor da biodiversidade.

Também preocupa-me a carência de planos para ciência como setor estratégico de estado, planos que sejam superiores às turbulências de governos.

Sabemos que é necessário muito tempo para o estabelecimento de grupos de pesquisa e para o desenvolvimento de projetos que podem efetivamente trazer inovação tecnológica.

A descontinuidade no investimento em C&T desestabiliza projetos de pesquisa que pretendem competir em nível internacional, além de prejudicar a formação de novos cientistas. Os efeitos disso serão sentidos por anos ou décadas.

Uma visão combinada de ampliação de recursos públicos que permita a atração de investimentos privados e estratégias público-privadas em áreas de pesquisa fundamental seria o ideal.

*Elaborado em parceria com Fabio Gouveia, Pablo Trindade, Alexandre Anésio, Mauro Rebelo e Renato Molica.

Sobre o Autor

"Stevens Rehen é um neurocientista brasileiro, coordenador de pesquisa do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (IDOR) e professor titular do Instituto de Ciências Biomédicas da UFRJ. Também é Membro do Comitê Científico do Museu do Amanhã, Membro do Conselho Científico do Instituto Serrapilheira, Embaixador ASAPbio, Chair do Comitê Brasileiro da Pew Charitable Trust Latin American Program in the Biomedical Sciences, Coordenador científico da ArtBio, Membro da Academia de Ciências da América Latina e Membro Afiliado da Academia de Ciências do Mundo em Desenvolvimento (TWAS).Prêmio Saúde 10 anos na categoria Saúde Mental e Emocional, Revista Saúde e Editora Abril (2015), Prêmio Faz Diferença, Jornal O Globo (2011), As 100 pessoas mais influentes do Brasil em 2009 e novamente em 2011 (Revista Época). Os 8 brasileiros que estão moldando positivamente o futuro do país (Revista Fora de Série), Jornal Brasil Econômico, 2009. Contato para palestras, eventos e institucionais: srehen@uol.com.br"

Sobre o Blog

O cotidiano de um cientista no Brasil.