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Blog do Stevens Rehen

A ética dos sonhos impossíveis

Stevens Rehen

22/12/2018 13h59

O sonho impossível de substituir um órgão vital que não funciona mais, como um rim ou um coração, por outro saudável, tornou-se realidade em 1954.

Quais foram os problemas éticos da época?

Primeiro, o problema de consciência da equipe médica ao "invadir um corpo" para obter um órgão para outro.

Segundo: Não havia uma distinção clara entre estado vegetativo persistente e morte.

O que foi feito? Simplesmente definiram que um estado vegetativo persistente deveria ser chamado de morte e tratado como tal.

Controvérsias à parte, mais de 100 mil transplantes de órgãos são realizados anualmente ao redor do mundo.

O sonho impossível de gerar embriões fora do corpo de uma mulher tornou-se realidade em 1978, quando nasceu Louise Brown, o primeiro bebê de proveta.

Quais foram os problemas éticos da época?

A manipulação de embriões, a pesquisa com células-tronco retiradas de embriões não implantados, o diagnóstico pré-implantação que permite a seleção de embriões e a condenação, por parte da sociedade, de uma técnica que substitui a forma natural de concepção.

Apesar disso, mais de 8 milhões de pessoas já nasceram da fertilização in vitro.

O sonho impossível da vez é a edição do genoma em seres humanos

Quais são os problemas éticos associados?

Não há uma comunicação técnica (por exemplo, um artigo científico) que permita a avaliação dos resultados com os bebês chineses; He Jiankui não foi transparente sobre suas intenções junto à comunidade científica e ignorou o consenso internacional sobre o tema (Don't rush into it).

A escolha do gene editado (CCR5), associado ao risco de infecção pelo HIV, também gerou controvérsias. Apesar de não existir uma vacina ou cura, a AIDS pode ser evitada.

E o maior complicador, a técnica de edição genômica (CRISPR) segue se aprimorando e não pode ser considerada totalmente segura.

De todo modo, como lembrou George Church em recente entrevista (link abaixo), a aplicação de radiação nunca teve risco zero, o que não impediu seu amplo uso na medicina.

E segue o baile…

Boas Festas e Feliz Admirável Mundo Novo

Para saber mais:

https://www.theatlantic.com/…/15-worrying-things-ab…/577234/

https://www.who.int/transplantation/gkt/statistics/en/

https://journalofethics.ama-assn.org/…/ethics-organ…/2012-03

https://embryo.asu.edu/pages/vitro-fertilization

https://www.sciencemag.org/…/i-feel-obligation-be-balanced-…

Sobre o Autor

"Stevens Rehen é um neurocientista brasileiro, coordenador de pesquisa do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (IDOR) e professor titular do Instituto de Ciências Biomédicas da UFRJ. Também é Membro do Comitê Científico do Museu do Amanhã, Membro do Conselho Científico do Instituto Serrapilheira, Embaixador ASAPbio, Chair do Comitê Brasileiro da Pew Charitable Trust Latin American Program in the Biomedical Sciences, Coordenador científico da ArtBio, Membro da Academia de Ciências da América Latina e Membro Afiliado da Academia de Ciências do Mundo em Desenvolvimento (TWAS).Prêmio Saúde 10 anos na categoria Saúde Mental e Emocional, Revista Saúde e Editora Abril (2015), Prêmio Faz Diferença, Jornal O Globo (2011), As 100 pessoas mais influentes do Brasil em 2009 e novamente em 2011 (Revista Época). Os 8 brasileiros que estão moldando positivamente o futuro do país (Revista Fora de Série), Jornal Brasil Econômico, 2009. Contato para palestras, eventos e institucionais: srehen@uol.com.br"

Sobre o Blog

O cotidiano de um cientista no Brasil.