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Blog do Stevens Rehen

Não fui eu? As eleições e os nossos tijolos

Stevens Rehen

12/10/2018 12h57

Um homem está em um viaduto e pretende jogar um tijolo na estrada abaixo dele.

De cima do viaduto os carros não são visíveis porque uma parede bloqueia a vista.

O homem terá que jogar o tijolo sem poder ver o tráfego.

O tijolo pode se espatifar no asfalto, sem maiores consequências, e a recompensa de um breve momento de êxtase e enxurrada de dopamina em seu cérebro justifica o risco.

A outra possibilidade é o tijolo cair sobre um dos carros e matar alguém.

Amigos que no primeiro turno votaram em Bolsonaro justificam a decisão culpando o PT e a corrupção generalizada.

Não são fascistas, racistas ou misóginos mas, embriagados pela enxurrada de fakes e facas, brandam aos montes: "não fui eu!".

A neurociência explica: culpar o outro é um excelente mecanismo de defesa. Acusar o outro por suas próprias ações ajuda a preservar o senso de auto-estima e evita reconhecer falhas e arrependimentos.

É mais fácil do que aceitar a responsabilidade.

Há menos esforço envolvido em reconhecer sua contribuição para uma situação ruim do que aceitar o fato de que você fez parte daquilo.

Exatamente como o faz o candidato da extrema-direita, que a própria extrema-direita internacional reconhece que passou dos limites.

Para ele o assassinato do capoeirista, a suástica cravada na jovem, os tiros na Praça São Salvador nada tem a ver com sua mensagem (de ódio).

Quem votou no Collor não gosta de lembrar.

Quem votar no Bolsonaro talvez seja forçado a esquecer que havia eleições.

Corrupção se combate com Lava-Jato e com democracia, já o fascismo…

Despeço-me na esperança de que muitos daqueles que acham que a culpa foi do outro, entendam que, agora, a culpa será de todos nós.

Não jogue o tijolo.

Ainda dá, ainda haddad.

P.S. Esse meu pequeno texto foi inspirado no artigo "Anotações sobre uma pichação" de João Moreira Salles na revista Piauí.

Sobre o Autor

"Stevens Rehen é um neurocientista brasileiro, coordenador de pesquisa do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (IDOR) e professor titular do Instituto de Ciências Biomédicas da UFRJ. Também é Membro do Comitê Científico do Museu do Amanhã, Membro do Conselho Científico do Instituto Serrapilheira, Embaixador ASAPbio, Chair do Comitê Brasileiro da Pew Charitable Trust Latin American Program in the Biomedical Sciences, Coordenador científico da ArtBio, Membro da Academia de Ciências da América Latina e Membro Afiliado da Academia de Ciências do Mundo em Desenvolvimento (TWAS).Prêmio Saúde 10 anos na categoria Saúde Mental e Emocional, Revista Saúde e Editora Abril (2015), Prêmio Faz Diferença, Jornal O Globo (2011), As 100 pessoas mais influentes do Brasil em 2009 e novamente em 2011 (Revista Época). Os 8 brasileiros que estão moldando positivamente o futuro do país (Revista Fora de Série), Jornal Brasil Econômico, 2009. Contato para palestras, eventos e institucionais: srehen@uol.com.br"

Sobre o Blog

O cotidiano de um cientista no Brasil.