O brasileiro curte ciência e acredita que a vida pode melhorar...
O brasileiro curte ciência e acredita que a vida pode melhorar com o avanço das pesquisas.
É preciso mais investimento? Sim, claro, a população tem essa noção, porém não se manifestou quando mais da metade do dinheiro para a ciência brasileira foi para o saco, por decisão do governo.
Muito provavelmente esse comportamento é consequência de não compreender como a ciência muda o mundo todos os dias, um pouquinho de cada vez e que mudanças pra valer só vem da ciência produzida dentro do Brasil.
Cabe aqui a mea culpa daqueles que buscam comunicar ciência. Salvo raras exceções, a divulgação segue hermética.
Todos discutem futebol, política e economia mas não conseguimos fazer com que as pessoas discutam também ciência.
E para falar sobre ciência é preciso se identificar com ela, conhecer seus personagens.
Só que cientistas pouco valorizam cientistas que saem dos laboratórios.
Que o diga Carl Sagan… Cortou um dobrado nos EUA, mas não conseguiu tenure (nomeação definitiva) em Harvard e nem eleito para a Academia Americana de Ciências foi.
Mesmo assim, é responsável por gerações que passaram a admirar ciência (Cosmos, por exemplo, foi assistido por mais de meio bilhão de pessoas) e por assegurar recursos para pesquisas. Fez muitas visitas ao Congresso Americano, simplesmente para lembrar que só a ciência salva.
De volta ao Brasil, garantir investimentos a médio e longo prazos é essencial, assim como transformar ciência em assunto de bar, de elevador, de ponto de ônibus e de engarrafamento.
Em 2013, não conseguimos gerar um alerta pragmático e de apelo popular sobre o impacto negativo do desmantelamento do Instituto Royal. As pessoas só lembraram dos beagles mas não do futuro da pesquisa de medicamentos no Brasil.
A comunidade científica precisa olhar para o próprio umbigo e refletir sobre o que fazer para sair do armário, da torre de marfim.
Em muitos momentos, trabalhamos para satisfazer nossos pares ou, parafraseando José Padilha, para satisfazer um "mecanismo", não necessariamente corrupto, mas que nos mantém pregando para quem já é convertido e fazendo mais do mesmo em muitos casos.
É comum no meio acadêmico, quando apresentados a um novo colega, querermos descobrir logo quantos artigos publicou, muitas vezes sem nos preocuparmos em saber qual sua contribuição real para um mundo melhor. Somos algoritmos, o mais comum chama-se índice h.
Não é tarefa fácil valorizar a boa ciência sem nos valermos de indicadores. Precisaremos sempre deles. Meu ponto aqui é que de pouco valem os indicadores se ninguém "fora do mecanismo" entende o valor da ciência.
Um caminho alternativo é carregar esforços na divulgação científica para a classe política. Nesse ano especialmente, para os candidatos.
O episódio da fosfoetanolamina ratifica a importância desse esforço. Políticos oportunistas de SP seguidos de outros, analfabetos científicos, continuam tentando se aproveitar do desespero alheio na busca por votos.
Se um determinado candidato não souber para que serve a ciência, deveremos nos esforçar para educá-lo e não votar naqueles que ignoram a ciência por opção.
Como bem lembrou Ildeu Moreira, a população sabe que o atraso da ciência está vinculado à decadência do processo político.
A educação científica de classe talvez ajude a separar o joio do trigo nas próximas eleições.
O artigo de Renato Grandelle no Globo é um ótimo começo.
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