Não fui eu? As eleições e os nossos tijolos
Um homem está em um viaduto e pretende jogar um tijolo na estrada abaixo dele.
De cima do viaduto os carros não são visíveis porque uma parede bloqueia a vista.
O homem terá que jogar o tijolo sem poder ver o tráfego.
O tijolo pode se espatifar no asfalto, sem maiores consequências, e a recompensa de um breve momento de êxtase e enxurrada de dopamina em seu cérebro justifica o risco.
A outra possibilidade é o tijolo cair sobre um dos carros e matar alguém.
Amigos que no primeiro turno votaram em Bolsonaro justificam a decisão culpando o PT e a corrupção generalizada.
Não são fascistas, racistas ou misóginos mas, embriagados pela enxurrada de fakes e facas, brandam aos montes: "não fui eu!".
A neurociência explica: culpar o outro é um excelente mecanismo de defesa. Acusar o outro por suas próprias ações ajuda a preservar o senso de auto-estima e evita reconhecer falhas e arrependimentos.
É mais fácil do que aceitar a responsabilidade.
Há menos esforço envolvido em reconhecer sua contribuição para uma situação ruim do que aceitar o fato de que você fez parte daquilo.
Exatamente como o faz o candidato da extrema-direita, que a própria extrema-direita internacional reconhece que passou dos limites.
Para ele o assassinato do capoeirista, a suástica cravada na jovem, os tiros na Praça São Salvador nada tem a ver com sua mensagem (de ódio).
Quem votou no Collor não gosta de lembrar.
Quem votar no Bolsonaro talvez seja forçado a esquecer que havia eleições.
Corrupção se combate com Lava-Jato e com democracia, já o fascismo…
Despeço-me na esperança de que muitos daqueles que acham que a culpa foi do outro, entendam que, agora, a culpa será de todos nós.
Não jogue o tijolo.
Ainda dá, ainda haddad.
P.S. Esse meu pequeno texto foi inspirado no artigo "Anotações sobre uma pichação" de João Moreira Salles na revista Piauí.
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