Tempestade perfeita
Esse é o primeiro trabalho experimental que identifica um co-fator ambiental evitável capaz de exacerbar as malformações congênitas causadas pelo vírus zika.
Os resultados já foram apresentados ao Ministério da Saúde que tem apoiado parte desses estudos.
O que descobrimos:
1. Análise sobre o número de casos reportados de microcefalia revela seu epicentro mundial no nordeste brasileiro, apesar do número de pessoas infectadas com zika na região ter sido inferior ao observado no sudeste e centro-oeste.
2. Há prevalência de cianobactérias que produzem saxitoxinas em reservatórios do nordeste quando comparado a outras regiões do Brasil.
3. Entre 2012 e 2016, em virtude da pior seca da história e eutrofização, a quantidade de cianobactérias aumentou bastante. Nesse período, em razão da menor oferta de água, parte da população mais carente pode ter ficado sem alternativa de consumo.
4. Minicérebros humanos infectados com vírus zika e expostos à saxitoxina tiveram uma quantidade de morte celular maior do que minicérebros infectados com zika.
5. Camundongas grávidas expostas à agua com concentrações de saxitoxina (inferiores às permitidas) e infectadas com o vírus zika tiveram filhotes com malformações mais graves.
Nossa conclusão é que a população que consumiu água com toxinas de cianobactérias tornou-se mais suscetível à síndrome congênita do vírus zika.
Para que os resultados se consolidem como "fato", deverão ser confirmados por outros grupos de pesquisa, com outros métodos e abordagens. É como preconiza a boa ciência.
Cabe ratificar que a exposição às cianotoxinas/saxitoxinas provavelmente não explica todos os casos graves associados ao vírus zika.
Desnutrição, genética, co-infecções ou infecções anteriores também devem ter contribuído.
O trabalho foi todo realizado no Brasil, apesar dos poucos recursos disponíveis.
A equipe multidisciplinar utilizou minicérebros humanos e animais de experimentação para validar a hipótese para uma "tempestade perfeita" que ajuda a explicar a incidência/gravidade das malformações com foco regional.
É preciso que continuemos nossos estudos e que mais grupos de pesquisa se debrucem sobre o tema, para confirmar (ou não) nossos achados.
Tomara que o governo reconsidere os cortes planejados para o CNPq/CAPES e a falta de apoio à ciência e nossas universidades.
Agradeço imensamente a todos os colaboradores, em especial ao meu amigo Renato Molica, da Universidade Federal Rural de Pernambuco (Unidade Acadêmica de Garanhuns), Patricia Pestana Garcez da UFRJ, Flavio Lara da Fiocruz, Amilcar Tanuri da UFRJ, Fernanda Moll e Arnaldo Prata do Instituto D'Or e suas respectivas equipes.
Meu reconhecimento à dedicação de Carol Pedrosa, Leticia Souza, Caroline Lima, Karina Karmirian, Marcelo Costa, com quem tenho a enorme satisfação de trabalhar diariamente.
O artigo está submetido a uma revista científica e, conforme orientação da OMS para agilizar discussão pública sobre emergências de saúde (https://www.who.int/bulletin/online_first/16-170860/en/), foi também compartilhado como preprint.
O compartilhamento do preprint permite que seu conteúdo esteja rapidamente disponível para a comunidade científica, e também o recebimento imediato de críticas e sugestões (https://journals.plos.org/plosmedicine/article…)
Link para o artigo: https://www.biorxiv.org/cgi/content/short/755066v1
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