Topo

Histórico

Blog do Stevens Rehen

Uso generalizado de máscaras reduz chances de contágio

Stevens Rehen

03/04/2020 00h05

Para pessoas saudáveis ou assintomáticas, máscaras atuam como barreira física contra o coronavírus. 

Gotículas contaminadas de saliva saem do nosso corpo através de espirros, tosse ou quando falamos. Quando expelidos por alguém infectado podem ser fonte de propagação de várias doenças, como a tuberculose e a atual COVID-19. Nos últimos dias, o debate sobre a utilização extensiva de máscaras, independentemente da pessoa estar ou não contaminada tem ganhado força entre especialistas como forma de reduzir a exposição. Na Coreia do Sul, país onde a contenção da disseminação do coronavírus foi bem sucedida, o uso de máscaras é fortemente incentivado, e a população segue à risca a recomendação.

Sui Huang, pesquisador no Institute for Systems Biology (ISB) dos EUA, detalha os mecanismos de transmissão do vírus, e sugere que não há motivo para não usar máscara. Um dos argumentos a favor é que, quando respiramos e falamos, a saliva e os perdigotos saltam até 1,5 metros de nós; quando tossimos alcançam 2 metros; já o espirro pode chegar a 6 metros (Figura 1). Com a boca tapada, seja por um pano ou por uma máscara eficiente, o risco de atingir outra pessoa, objeto ou local diminui consideravelmente.
Em entrevista recente à revista Science, George Gao, diretor geral do Centro para Controle e Prevenção de Doenças da China, afirmou que a máscara deve ser usada por todos, mesmo que não estejam – ou julguem não estar – contaminados. K.K. Cheng, especialista em saúde pública na Universidade de Birmingham afirma que "É uma intervenção de saúde pública perfeitamente boa e que não é usada." Ao mesmo tempo, Cheng e outros pesquisadores dizem que, além do uso da máscara, é essencial o distanciamento físico e o isolamento voluntário, pois quanto mais interagimos, mais saliva sai de nossas bocas.

A infectologista da UNICAMP Raquel Stucchi afirma que o uso de máscaras pode trazer às pessoas a sensação de que há segurança contra o vírus, assim coçam o olho e podem descuidar da lavagem de mãos. Assim, indica que o protocolo para o uso de máscaras cirúrgicas descartáveis é que se higienize as mãos antes de colocá-las e não se toque na máscara em nenhum momento após vesti-la. Ademais, após removê-la, o descarte do item e a lavagem das mãos são mandatórios. Em estudo de 2013, foi observado que até máscaras caseiras (feitas de algodão) seriam eficazes na falta de máscaras cirúrgicas. Importante, há de se lavar a máscara de algodão após seu uso.

Pessoas que apresentam sintomas de virose não são incentivadas a sair de casa, mas o problema é que assintomáticos também têm chance de contaminar os outros. Por isso, especialistas internacionais têm se manifestado pelo uso de máscaras para prevenção de contágio por SARS-CoV-2. O que desencoraja o uso de máscaras é o estoque limitado do item para uso hospitalar. Por esse motivo, especialistas incentivam o uso de máscaras feitas de algodão, pois mesmo não sendo ideais, ainda seriam capazes de proteger minimamente a pessoa que a veste e as que estão ao redor.
Escrito por Luiza Mugnol Ugarte
Fontes:
Would everyone wearing face masks help us slow the pandemic? https://www.sciencemag.org/news/2020/03/would-everyone-wearing-face-masks-help-us-slow-pandemic#
Not wearing masks to protect against coronavirus is a 'big mistake,' top Chinese scientist says https://www.sciencemag.org/news/2020/03/not-wearing-masks-protect-against-coronavirus-big-mistake-top-chinese-scientist-says
COVID-19: WHY WE SHOULD ALL WEAR MASKS — THERE IS NEW SCIENTIFIC RATIONALE https://medium.com/@Cancerwarrior/covid-19-why-we-should-all-wear-masks-there-is-new-scientific-rationale-280e08ceee71
Usar ou não máscaras para prevenir coronavírus? OMS diz que não, EUA reveem indicação
https://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2020/04/usar-ou-nao-mascaras-para-prevenir-coronavirus-oms-diz-que-nao-eua-reveem-indicacao.shtml
Disaster Medicine and Public Health Preparedness: http://journals.cambridge.org/abstract_S1935789313000438
How South Korea Solved Its Face Mask Shortage
https://www.nytimes.com/2020/04/01/opinion/covid-face-mask-shortage.html

Sobre o Autor

"Stevens Rehen é um neurocientista brasileiro, coordenador de pesquisa do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (IDOR) e professor titular do Instituto de Ciências Biomédicas da UFRJ. Também é Membro do Comitê Científico do Museu do Amanhã, Membro do Conselho Científico do Instituto Serrapilheira, Embaixador ASAPbio, Chair do Comitê Brasileiro da Pew Charitable Trust Latin American Program in the Biomedical Sciences, Coordenador científico da ArtBio, Membro da Academia de Ciências da América Latina e Membro Afiliado da Academia de Ciências do Mundo em Desenvolvimento (TWAS).Prêmio Saúde 10 anos na categoria Saúde Mental e Emocional, Revista Saúde e Editora Abril (2015), Prêmio Faz Diferença, Jornal O Globo (2011), As 100 pessoas mais influentes do Brasil em 2009 e novamente em 2011 (Revista Época). Os 8 brasileiros que estão moldando positivamente o futuro do país (Revista Fora de Série), Jornal Brasil Econômico, 2009. Contato para palestras, eventos e institucionais: srehen@uol.com.br"

Sobre o Blog

O cotidiano de um cientista no Brasil.